Quando o Cinema Precisou se Adaptar para Sobreviver - Parte 1

viagem a lua
A magia da sétima arte: mais de um século de constante reinvenção.

O cinema foi inventado em 1895 pelos irmãos Lumière e, na sua essência, não era muito diferente do que conhecemos hoje: um projetor de imagens, uma tela e um curta-metragem de poucos segundos. Nestes 130 anos de história, muita coisa mudou. O cinema de hoje é uma indústria de entretenimento gigantesca que movimenta milhões e emprega pessoas no mundo todo. Mas, para alcançar o status que tem, ele teve que superar muitos obstáculos e passar por inúmeras adaptações para sobreviver. Vamos dar uma olhada nos momentos de transformação mais importantes.

O que esperar desse artigo:

  • A Transição do Cinema Mudo para o Falado (e seus desafios).
  • O Período de Ouro da Comédia Visual (Chaplin e Keaton).
  • A Competição com o Rádio nos Anos 30.
  • O Cinema de Propaganda na Segunda Guerra Mundial.

O Cinema Mudo e sua Difícil Transição para o Cinema Falado

O cinema nasceu mudo, sem nenhum som, com imagens em preto e branco e alguns letreiros que apareciam durante a projeção para informar algo importante na trama. O único som era o de um pianista ou de uma orquestra que tocava ao vivo, às vezes mais interessantes do que o próprio filme. Os atores precisavam mostrar emoções dramáticas através de gestos, caras e bocas. Há quem diga que, naquela época, as interpretações dramáticas eram mais exigentes.

Foi nesse período que surgiram ícones que se especializaram mais na arte visual do que na dramática e que são lembrados até hoje: Laurel & Hardy (O Gordo e o Magro), Charles Chaplin e Buster Keaton (o "homem que não sorri"). Eles eram mestres da comédia visual, muitas vezes realizando as próprias cenas perigosas em seus filmes.

gordo e o magro
Laurel & Hardy, Chaplin e Keaton: mestres da comédia visual no cinema mudo.

Nessa época, também surgiram grandes produções, como Ben-Hur (1925), que muitos consideram superior à refilmagem de 1959, embora esta tenha conquistado 11 Oscars.

Aos poucos, os produtores saíram de Nova York, onde o inverno dificultava as filmagens, para a ensolarada Califórnia, com um clima mais favorável e melhores condições. Foi na ensolarada Califórnia que nasceram as produtoras cinematográficas que deram origem a Hollywood, berço dos grandes estúdios de cinema como os conhecemos hoje.

ben hur
O sucesso de Ben-Hur (1925) e a migração para a Califórnia marcam uma nova fase de produção em Hollywood.

Assim foi até meados de 1927, quando foi inventado um dispositivo de gravação em disco para reproduzir sons e vozes durante a projeção de um filme. Nascia, então, o cinema falado.

Na época, os magnatas do cinema ridicularizaram a invenção e acharam que não daria certo. No entanto, após algumas modificações, a Warner Bros. produziu o primeiro filme falado em 1929, O Cantor de Jazz, com Al Jolson. O filme não tinha muitos diálogos, mas tinha música e foi um sucesso estrondoso.

Todos queriam ver filmes falados. Os estúdios tiveram que investir em aparelhagem de som para as filmagens, e os donos de cinema precisaram adaptar as salas para terem um som adequado. Mas nem tudo foram flores: músicos e orquestras se tornaram desnecessários, e a maior parte dos atores e atrizes da época perderam seus empregos e carreiras. Muitos não tinham boa dicção, falavam com sotaque estrangeiro ou tinham problemas de fala, e os microfones da época aumentavam esses defeitos (um detalhe que só foi corrigido nos anos posteriores). A solução foi importar atores e atrizes do teatro e investir na formação de novos talentos para que o cinema sobrevivesse aos novos tempos.

Quem quiser ver um lado divertido dessa transição do cinema mudo para o falado, deve assistir ao musical Cantando na Chuva, com Gene Kelly.

Cantando na Chuva
O musical "Cantando na Chuva" retrata de forma divertida a caótica transição para o cinema falado.

Os Anos 30 e 40

Nessa época, o rádio era o maior companheiro das pessoas. Com ele, ouviam notícias, novelas, programas cômicos, de auditório e músicas ao vivo de seus intérpretes favoritos. Sentavam-se na sala de estar após o jantar e ouviam, maravilhados, o mundo do rádio.

Cinema
Uma sala de cinema lotada, símbolo do sucesso da sétima arte em seus primeiros anos.

Uma vez por semana, todos iam ao cinema assistir uma programação que era geralmente assim:

  • Um desenho animado de personagens variados (Looney Tunes, Betty Boop, Popeye, etc.).
  • Um curta-metragem (até 20 minutos), como O Gordo e o Magro, Os Três Patetas, Charlie Chaplin, ou um episódio de um serial. O serial era uma história com começo, meio e fim, dividida em capítulos semanais (geralmente 13 ou 15 episódios). Foram produzidos cerca de 3.000 serials de 1912 a 1956, e eram de tudo um pouco: selva, policiais, capa & espada, westerns e até sci-fi. Podemos dizer que os serials são os antepassados dos seriados de televisão. Nos anos 60, eles eram exibidos na televisão, inclusive no Brasil em programas infantis. Alguns foram lançados em DVD para quem quiser conhecer.
  • Uma média-metragem, um filme de até 60 minutos, podendo ser um western, policial, drama ou comédia. Os mais populares exibidos eram os westerns Durango Kid e Hopalong Cassidy.
  • O filme principal, geralmente um lançamento com atores consagrados.

Surgiu, então, o Código Hays de Censura, que proibia a exposição de erotismo, nudez e temas considerados imorais nos filmes americanos. O código de censura durou até o final dos anos 60. Mesmo com a censura, o cinema era a maior diversão.

Cinema Propaganda e a Segunda Guerra Mundial

Produzia-se muito, mas, no final dos anos 30, com a deflagração da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), parecia que o mundo todo estava assistindo a um filme de guerra e temeroso sem saber o final. Foi aí então que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra em 1941, e Hollywood não hesitou: criou o Cinema Propaganda, levando diretores consagrados, como John Ford, William Wyler e muitos outros, para o front de batalha na Europa e no Pacífico, a fim de retratar o cotidiano das tropas e suas batalhas. Multidões corriam para os cinemas para ver cenas autênticas de combate, e não apenas as encenadas em estúdios.

Cartaz de filme de propaganda de guerra dos EUA.
O Cinema Propaganda uniu a produção de Hollywood ao esforço de guerra, mantendo as audiências em alta.

Próxima Crise: A Chegada da Televisão

Após o término da Segunda Guerra, Hollywood criou o Cinema Noir, filmes com iluminações especiais, crimes, femmes fatales e reviravoltas no enredo. Mais um grande sucesso de audiência.

Na próxima parte dessa matéria, vamos mergulhar nas décadas de 50 e 60, o período em que o cinema teve que encarar seu maior rival até então: a televisão.

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